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Mãe que perdeu filho relembra importância da doação de órgãos: 'A gente chorava, mas oito famílias sorriam'

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A importância da doação de órgãos: o poder de uma decisão

A artesã Denise da Silva sempre encarou a morte de uma forma diferente. Embora saiba que o assunto é delicado, nunca fugiu de conversas desconfortáveis com a família. No entanto, há seis anos, precisou lidar não apenas com o tópico, mas também com a dor do luto ao perder o filho, na época com 21 anos, após sofrer um acidente de carro.

A difícil decisão

Murilo Henrique da Silva chegou a ficar cinco dias internado no Conjunto Hospitalar de Sorocaba(CHS), no interior de São Paulo. Após ter a morte encefálica confirmada, a mãe se viu diante de um dilema encarado por diversas famílias: doar ou não os órgãos do filho. A decisão final, para ela, não foi difícil.

Denise deu entrevista para o "Mais Você", programa comandado por Ana Maria Braga, na quarta-feira (27), Dia Nacional da Doação de Órgãos. Na ocasião, citou a enfermeira responsável por Murilo e por abordar a família a respeito da doação de órgãos, Claudia Santos.

Claudia é pós-graduada em captação, doação e transplante de órgãos e tecidos. Ao , ela conta que, mesmo após mais de cinco anos, ainda mantém um vínculo com Denise.

"Ela foi a primeira pessoa que conheci que queria com todas as forças da alma que o filho viesse a ser doador de órgãos. À medida que eu colocava as dificuldades para ela, ela chorava. Uma noite ela me ligou desesperada pedindo para que eu a ajudasse para que o filho dela doasse os órgãos. Eu estava fazendo de tudo, era 24 horas tentando resolver. A partir daí, nunca me esqueci dela", conta.

Denise lutou para encontrar um médico que fizesse o exame para constatar a morte encefálica do filho. Segundo Claudia, três dias antes da morte ser constatada, o jovem não pôde ser submetido ao protocolo, pois tinha um sangramento no ouvido.

"A legislação, naquela época, não nos possibilitava realizar esse protocolo sem que um especialista avaliasse a integridade da membrana timpânica. Naquela ocasião, não tínhamos no quadro médico do hospital profissionais em atividade nessa especialidade. Tínhamos especialistas que estavam em outra função e, por conta disso, se negaram", lembra.

Partiu de Claudia o pedido para um especialista a ajudar a decretar a morte do jovem para que os pais pudessem sepultar o filho.

Uma família enlutada, oito famílias sorrindo

Foram cinco dias de aflição e medo por parte da família de Murilo. Mas, segundo Denise, conforme as horas se passavam, mais ela entendia que o filho não acordaria mais. Após conversar com Claudia e a doação de órgãos se concretizar, ela soube: oito vidas seriam salvas com a decisão.

Para ela, apesar de sofrer com a perda do filho ainda muito jovem, outras pessoas puderam renascer e seguir com suas vidas.

O acidente

Denise e o marido possuem um sítio em Araçariguama, cidade a cerca de 50 quilômetros de Sorocaba. No dia do acidente, Murilo levava a namorada até o local para um jantar com os pais e sogros. Conforme a mãe, o acesso para o sítio é difícil.

Na estrada de terra, Murilo capotou o carro. Ele foi levado ao pronto-socorro de Araçariguama, onde teve uma parada cardíaca e foi reanimado e transferido para o Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS).

"Ele ficou internado do dia 5 ao dia 10 de agosto. Todos os dias eu ia ao hospital. Ele não falava, pois não conseguia, mas a gente conversava com ele e as lágrimas desciam. Optaram por sedá-lo. Depois, percebi que ele foi piorando e não ia mais voltar para casa", relembra Denise.

A importância da decisão de doar

A facilidade em tomar a decisão de doar os órgãos do filho partiu da empatia. A mãe se colocou no lugar das famílias que aguardavam pelo órgão e pensou que, em algum momento da vida, poderia estar do outro lado.

A artesão comenta que nunca conheceu quem recebeu os órgãos do filho, mas que vontade não falta. "Eu não queria ouvir 'obrigado'. Só queria saber se estão bem. A importância, para mim, é ajudar o próximo. Sonhos do meu filho foram interrompidos e, para mim, essa causa é para pessoas renascerem e realizarem seus sonhos, terminarem de criar seus filhos", diz.

"A doação de órgãos não faz nenhum mal psicológico para a família que disse 'sim'. Pelo contrário, conforta o coração saber que partes dele ajudaram oito pessoas. Foi muito difícil, Deus me deu forças todos os dias. Desejo que minha história ajude muitas pessoas. É essa a minha intenção: ajudar os que estão na espera de um órgão."

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